Nem uma pandemia dessas proporções como a que estamos vivendo fez com que a maior parte dos profissionais do idioma e da medicina atentassem para o uso correto dos termos referentes à imunologia (ramo da medicina e da biologia que estuda os diversos fenômenos ligados à imunidade) ao falar de imunidade (resistência natural ou adquirida de um organismo contra contaminações) e dos imunizantes (que ou aquilo que produz imunidade).
A culpa é dos decalques, sem sombra de dúvida. Em vez de nos atermos aos nossos vocábulos vernáculos, “aportuguesamos” palavras alienígenas e dificultamos muito assim a comunicação e a transmissão do conhecimento.
Senão, vejamos:
Imune: dotado de imunidade, tem resistência a um agente infeccioso, a uma doença infectocontagiosa. Logo, o sistema não pode ser “imune” pois não é dotado de imunidade contra nada, nem “imunológico”, posto que precede a imunologia em alguns bilhões de anos; o sistema é imunitário (ver adiante).
Imunitário: que se refere a imunidade.
Imunológico: referente à imunologia (ciência que estuda a imunidade).
Imunizante: que imuniza ou confere imunidade.
Claro está que estes termos não são intercambiáveis.
Apenas o decalque do inglês immune system explica o canhestro e equivocado “sistema imune” em vez do correto sistema imunitário; e sua multiplicação em “doença autoimune” (uma doença dotada de imunidade?) em vez da correta doença autoimunitária, a “resposta imunológica” (a imunologia responde?) em vez da correta resposta imunitária, e assim por diante.
Talvez estejamos na época propícia para revermos os nossos conceitos e corrigirmos o rumo terminológico, o que só nos trará benefícios.