Tem
um ditado na internet que é algo como “a melhor época pra criar um blog foi há vinte anos, a segunda melhor época é agora”. Eu amo ele.
Quando eu e meus amigos criamos o Pão, a gente tinha um plano ambicioso pra ele. A gente ia escrever todos os dias nele, a gente ia fazer reviews dos filmes mais novos, das séries mais legais, estaríamos estar na frente da conversa.
Isso nunca aconteceu. Ou melhor, não aconteceu da maneira planejada. O formato de blog se impõe na internet, mas diferente das redes sociais, ele se impõe e se revela devagar, gradualmente. Quando você menos espera, você está colhendo os frutos do seu trabalho, mas você nem percebeu que tinha plantado algo em primeiro lugar.
Eu nunca consegui atualizar o
Pão todos os dias, nem nunca consegui “estar à frente da conversa”. Tinha uma época que eu tentava, eu ia ver filmes na estreia e
fazia reviews no mesmo dia sobre eles.
Olhando hoje, esses são os posts mais mal escritos de todos. Não porque eu estava iniciando nessa história (
eu não estava), e sim porque são posts que só funcionavam por um dia. Hoje eles estão completamente defasados. Uma boa crítica sobrevive a época de lançamento de um filme e vira uma referência para a sua recepção. Eu não sou um bom crítico de arte — requer muita leitura e muita referência histórica e cultural pra isso.
Mas eu me considero um bom observador. E, pra isso, o formato de blog é ideal: você pode fazer longas ruminações sobre o seu cotidiano ou uma observação passageira sobre alguma descoberta, e nenhum dos dois casos vai parecer fora de lugar em um blog. Embora ele seja escrito de maneira cronológica e esteja “preso” ao tempo de publicação de seus posts, seu significado muda conforme ele vai envelhecendo e vai se complementando com outros posts através das tags. É o formato perfeito da internet.
Quando o Pão começou, a gente queria que ele fosse um lugar para você descobrir coisas boas. Essa era a nossa voz adolescente, que achava que sabia o que era bom™ e tinha autoridade para falar. Esses posts? Eles morrem cedo, até pra mim. Eu não sei o que faz Uma Aventura LEGO ser bom™, e não sabia em 2014. Eu sei o que eu gosto nesse filme, e o que ele me faz sentir. E sobre isso, eu sei escrever. Em 2014, quando a gente tava começando, eu achava que isso não era suficiente. Mas isso é tudo o que você precisa para começar um blog.
Eu digo isso agora porque o
Pão, com seus oito (!!) aninhos de idade, já tem uma certa movimentação. Eu não rastreio visitas, mas eu recebo um relatório do meu servidor sobre o número geral de acessos e buscas no fim do mês, e os posts de 2013 e 2014 nunca são os mais acessados. Não, são posts como
esse e
esse ou
esse, sobre coisas que eu estou sentindo no momento, que sobrevivem e sempre estão sendo acessados pelas pessoas.
O formato de blog é esse belo paradoxo, ele é invariavelmente relacionado ao momento em que você está escrevendo ele, mas ele se transforma em algo “perene” com a passagem do tempo: nem todo o mundo sente tudo no mesmo tempo que você. Ou melhor, todo o mundo sente coisas diferentes em momentos diferentes da vida, e se você escreve sobre elas as pessoas vão encontrar o que você escreveu sempre. Sempre tem alguém triste ou feliz, ou cansado ou com dúvida. E o que você escreveu sobre o momento em que você estava sentindo isso pode servir como um ponto de referência.
Quando eu percebi que era isso que o Pão estava se transformando, eu lutei um pouco contra. Mas com o passar do tempo eu acabei aceitando, e eu acho que eu nunca escrevi tão bem (eu ainda preciso melhorar muito, mas ei!). Eu demorei pra aceitar que essa era a minha voz e esse era o meu formato, mesmo ele se impondo na minha frente.
O Pão “só” tem oito anos, fico curioso pra saber como ele vai estar quando tiver vinte.