Em A Estrutura das Revoluções Cientificas, Thomas Kuhn define o conceito dos paradigmas e a importância deles para ciências. Muito a grosso modo, o paradigma é um conceito que é aceito por um ramo da ciência como verdade e as demais teorias são escritas partindo da premissa que esses paradigmas estão certos. Nas ciência exatas isso é muito claro, tanto que é atribuída a Newton a frase “se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”. Apesar de parecer poética, tem uma aspecto prático importante na frase. Newton não começa as teorias dele do zero, nem conceitos inovadores como a lei da gravidade ou o cálculo. Ele partiu de mecanismos da física e da matemática que já haviam sido desenvolvidos e provados e que eram tidos como inquestionáveis.
Voltando a Kuhn, algo que ele aponta é que, algumas vezes, os paradigmas param de funcionar. Conforme as previsões ou explicações falhas se acumulam, um acúmulo este chamado de “anomalias”, a ciência natural entra em um estado de crise. Quando algo assim acontece, o esperado é que surja um cientista revolucionário com um novo paradigma para substituir o anterior. Só assim, a ciência pode voltar para um estado paradigmático.
Meu ponto aqui é o seguinte, muito se fala das crises que vivemos, que temos a sanitária, a moral, a estética e tudo mais, mas, para mim, o maior problema é a crise paradigmática.
Chegamos em uma uma situação em que não temos mais certezas, absolutamente tudo é uma narrativa e todo fato é uma mera tese.
A facada foi uma fraude? Aécio ganhou a eleição? A vacina implanta um chip? Cloroquina funciona? O PT distribuiu mamadeira de piroca? A terra é redonda?
A credibilidade e a confiabilidade chegaram a um patamar crítico por um motivo básico: se tornaram atributos seletivos. As pessoas passaram a escolher se algo é um fato de acordo com os interesses. Notícia publicada em jornal com dados que eu não concordo? É mentira. Vídeo de um suposto médico que ninguém ouviu falar enviado frequentemente no whatsapp com uma opinião que eu concordo? É verdade.
Mesmo pessoas mais sensatas ficaram sem um lugar para se agarrar.
E, vamos combinar, boa parte das notícias se baseiam em algo que alguém “importante” falou e muita gente está se aproveitando da falta de paradigmas para transformar fatos em narrativas e mentiras em certezas. Daí como ficamos? Acende a luzinha da paranoia e achamos que tudo é um plano para nos manipular?
Não tenho respostas para nada disso, se tivesse, a veracidade delas, talvez seria contestada .
O que sei, baseado em uma lógica de como se aprende matemática é que, você pode ver a demonstração do teorema de Pitágoras uma vez, mas, refazer todo o cálculo que demonstra que ele funciona a cada vez que precisa fazer algo que envolva trigonometria, é algo insano.
A vida em sociedade não é uma ciência exata, é óbvio. Mas essa realidade em que alguns querem nos convencer que são gigantes sobre ombros de anões não leva ninguém a lugar algum.