É claro que essa questão é apenas uma das engrenagens que retroalimentam um cenário muito complexo.
A concentração de riqueza e a desigualdade no mundo crescem de forma assustadora. E o empobrecimento acelerado da maioria da população trabalhadora, inclusive uma classe média que, no caso do Brasil, teve uma ascensão razoável entre 2000 e 2015, faz com que as pessoas busquem alternativas para minimizar as despesas e maximizar os lucros. Sim, esse é um pensamento empresarial, mas não podemos esquecer que, agora, todos são empresas de um homem só.
O que mais me preocupa nesse cenário todo é: quem paga a conta?
Se algo tinha um custo, agora com aparição de um intermediário (uber, ifood, etc) recebendo sua parte, o preço não deveria aumentar?
A ideia de que esses aplicativos “azeitaram” tão bem os mecanismos não explica por completo essa alquimia.
Quando olhamos mais de perto essa suposta eficiência vemos que a base da pirâmide está abrindo mão de quase tudo que podia e não podia para fazer a mágica acontecer. Não é só o trabalhador que deixa seus direitos de lado, os microempresários do comércio do bairro apertaram suas margens para acomodar os novos “sócios” e não perder os clientes para a competição predatória.
Mas tudo isso tem um limite. Quanto é possível cortar até que o ecossistema não seja mais sustentável?
O Uber, o grande símbolo dessa nova era, já dá sinais de exaustão. A corda, é claro, não está rompendo do lado do aplicativo, que segue faturando, e sim do trabalhador empreendedor. A falta de direitos na hora que ocorre um acidente, o retorno insuficiente para o tanto de trabalho e todos os demais custos e riscos passaram a pesar e afastar os motoristas dos aplicativos.