Lá para 2006 eu estava na faculdade de matemática quando fiquei sabendo por um colega que trabalhava para um plano de saúde, que a empresa tinha várias vagas de estágio. Achei curioso, para quê um plano de saúde precisava de tantos matemáticos?
Basicamente esse pessoal trabalhava refinando algoritmos que avaliavam cada cliente do plano e determinavam quem daria lucro e quem daria prejuízo para a empresa no longo prazo.
Se a pessoa que daria lucro ligasse querendo cancelar, o operador fazia de tudo para ela ficar, dava desconto, melhores condições, o que fosse. Caso contrário a porta da rua era serventia da casa.
Planos de saúde são operações financeiras complexas e, se você tem um plano, ele sabe na hora de autorizar um procedimento mais caro se você é um cliente que ele quer manter ou não. Ninguém esperto o suficiente vai admitir que o excesso de burocracia ou as autorizações no limite máximo do prazo foram influenciadas por você ser um cliente que não vale a pena. Em um mundo ideal, isso nunca ocorreria, é claro. Mas, se fosse um mundo ideal, o plano não teria um pequeno exército calculando o seu custo-benefício.
Agora vamos comparar o balanço contábil de um plano “normal”, a Amil, por exemplo e da Prevent Sênior.
Em 2020 a Amil arrecadou com mensalidades R$ 20,4 bilhões e, no final do ano, gerou um lucro de R$ 517 milhões e uns trocados (bem arredondado, foi 2,5% de lucro em relação a receita).
Já a Prevent, também em 2020, arrecadou R$4,1 Bilhões e gerou um lucro líquido de R$ 495 milhões (também arredondando, 12% de lucro em relação a receita).
A Prevent é uma empresa muito menor que a Amil, tanto que o balanço da Prevent está em Reais e o da Amil está em Milhares de Reais. O patrimônio líquido da Amil é de 13 bilhões e o da Prevent alcançou 1 bilhão apenas em 2020.
Existe um fenômeno chamado “deseconomia de escala” que é quando uma empresa, por seu tamanho agigantado passa a gastar mais proporcionalmente do que uma empresa equivalente menor. Parece algo que contraria a lógica natural de que empresas maiores lucram na quantidade, mas, mesmo assim, em alguns casos isso se aplica.
Pode ser esse o caso. Pode ser que a Prevent tenha uma estrutura administrativa muito melhor do que a Amil. Pode ser que a Prevent tenha descoberto um esquema fantástico com a sua metodologia de hospitais e médicos próprios.
Mas, mesmo assim, o fato é que a Prevent, proporcionalmente, lucra 5 vezes mais do que a Amil mesmo que essa seja 13 vezes maior a Prevent.
Então, ou a Amil é administrada por pessoas muito tapadas que não tem a capacidade de olhar no quintal do vizinho e otimizar o trabalho OU tem alguma coisa muito errada na Prevent.
Independente da teoria que optemos, é certo que tem um sistema que não fica calculando o valor do paciente em cada etapa, esse sistema é o SUS, ele tem seus problemas, tem seus ralos, mas o SUS em si nunca foi o problema e sim a solução.
(Pra quem tiver curiosidade, o
balanço da AMIL está aqui e o da
Prevent está aqui, lembrando que a AMIL é uma S/A, ou seja a contabilidade dela é muito mais rigorosa e complexa, enquanto a Prevent é uma LTDA que tem um pouco menos e exigências contábeis).