Entre os vários ensaios de ditadura, um ato recorrente é a tortura dos números.
Bolsonaro vem dizendo que o preço do combustível está alto por culpa dos governadores que aumentaram o ICMS (imposto estadual cobrado sobre a circulação de mercadorias e serviços, no caso da gasolina a alíquota varia entre os estados mas está na casa dos 25%).
Já os governadores se defendem dizendo que o ICMS do combustível não aumenta a mais de uma década em muitos estados.
Parece que, dessa vez, Bolsonaro tem uma razão parcial, só comunicou mal.
O percentual cobrado do ICMS de fato não mudou ao longo do tempo, mas, cada vez que a Petrobras sobe o preço do combustível, os estados precisam de mais espaço no cofre, pois a arrecadação do ICMS aumenta e muito, afinal, se o preço do produto aumenta, o imposto é um reflexo direto de 25% desse preço.
Como o consumo é relativamente estável, afinal as pessoas e mercadorias têm que continuar se locomovendo, a arrecadação do ICMS sobe. Se pegarmos os dados do ICMS só de São Paulo o total arrecadado entre janeiro e agosto de 2021 foi de 109,5 bilhões, no mesmo período em 2020 o arrecadado era de R$ 90,3 bi e em 2019 (antes da pandemia) era de R$ 94,8 bi [dados da transparência de SP, lembrando que o combustível não é o único fator na arrecadação de ICMS, mas representa, em média, 20% da arrecadação dos estados].
Ou seja, os estados estão arrecadando mais, e o Dória concorda com esse raciocínio.
Em entrevista no programa Roda Viva, ele foi questionado sobre o orçamento da Fapesp. Lá o governador usou o mesmo raciocínio matemático de Bolsonaro ao afirmar que esse, que é o principal órgão de fomento de pesquisa do país, teve seu orçamento ampliado.
Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico, rebateu dizendo que, seguindo a constituição, há muito tempo Fapesp recebe um percentual fixo de 1% do total arrecadado com ICMS, ou seja, se não aumentou o percentual, não teve aumento (argumento dos governadores sobre o combustível)
Mas Dória foi taxativo, insistente e quase grosseiro ao afirmar que não havia dúvidas, pela lógica dele, o orçamento da FAPESP aumentou.